Jovens contra a violência do Género

Austelino Dias Tavares
“Jovens Contra Violência de Género” (JCVG)

Young People Against Prostitution and Human Trafficking:
The Greatest Violence Against Human Beings

Casina Pio IV
Vatican City, 15-16 November 2014

 

Esta apresentação basear-se-á na partilha de experiências adquiridas no âmbito do projeto “Jovens Contra Violência de Género” (JCVG) sob o lema “masculinidade positiva”. O projeto decorreu pela primeira vez em Cabo Verde, na cidade da Praia, promovida pela Câmara Municipal local. O projeto decorreu de Fevereiro a Julho de 2014. O mesmo é coordenado pela cidade de Torino (Itália), é financiado pela Comissão Europeia e conta com um total de 14 entidades participantes de países europeus, Brasil e Moçambique.

O objetivo fundamental do projeto é contribuir para a redução da violência baseada no género através da melhoria do conhecimento e das habilidades de grupos de jovens pertencentes às associações juvenis, ativas nas comunidades, bem como dos jovens do ensino secundário, sobre as questões relativas à defesa dos direitos humanos e à luta contra a violência do género. O trabalho junto dos jovens visa, sobretudo sensibilizá-los e transformá-los em multiplicadores dos seus pares na área da violência baseada no género.

Tendo em conta que é a primeira vez que Cabo Verde recebe um projeto desta natureza, teve uma participação de um total de doze jovens da cidade da Praia, com idades compreendidas entre os 20 e 29 anos. O tema abordado foi “masculinidade positiva”, no sentido de aumentar o protagonismo desses jovens junto das comunidades em que estão inseridos e deste modo contribuir para aumentar os seus conhecimentos na temática em questão, através da educação formal e não-formal utilizando o método Peer Education (Educação de Pares).

2. FASES DO PROJETO

Após o período de seleção dos 12 jovens peers educators, do qual eu fazia parte, tivemos a oportunidade de ter um encontro com a equipa responsável pelo projeto (Câmara Municipal da Praia) e uma representante da Itália. Ainda neste mesmo encontro, foi feito a abertura e a apresentação oficial do projeto “Jovens Contra a Violência de Género”.

Posteriormente à fase de socialização do projeto, tivemos as sessões de formação com diversos formadores, onde foram abordadas diversas temáticas, tendo como foco a “masculinidade positiva”. Estas sessões de formações foram subdividas em duas partes: Uma formação
temática e a outra, formação residencial metodológica – que decorreu dois dias.

A formação temática foi desenvolvida sob a perspetiva teórica em torno dos vários aspetos da masculinidade positiva, com o intuito de facultar aos jovens participantes competências indispensáveis para o cumprimento dos objetivos do projeto.

A formação temática decorreu no Centro de Educação Ambiental da Câmara Municipal da Praia, cujas temáticas desenvolvidas foram: Discussão sobre o papel da educação no desenvolvimento das pessoas, a dicotomia entre sexo e género, reflexão sobre a construção social do homem e da mulher, discussão sobre a construção social do género e da VBG (Violência Baseada no Género) e por fim, sobre a mídia na educação. No que se diz respeito à formação residencial metodológica, pode-se dizer que teve lugar num espaço diferente, designado Ribeira Grande de Santiago ou também conhecido como famosa, “Cidade Velha” (Cidade Velha é considerada como sendo o Património Mundial pela ONU). Considero que o espaço foi bem escolhido, não somente pelo seu carácter histórico, mas também pelo seu ambiente calmo e acolhedor. Durante os dois dias de formações intensivas, tivemos a oportunidade de aprender e aprofundar melhor as técnicas de comunicação e de animação, de modo a melhorar cada vez mais as nossas práticas como futuros formadores.

De uma forma geral, posso dizer que as sessões de formação tanto temática, como metodológica foram bastante produtivas, uma vez que, tive um melhor aprofundamento em várias temáticas abordadas nas sessões. Fiquei muito entusiasmado pela forma como os formadores cativavam as nossas atenções, pois, sempre havia algo interessante para aprender a cada dia. As estratégias utilizadas por eles foram muito eficientes, porque facilitavam e muito, a compreensão.

A outra fase do projeto, enquadrado na vertente prática, onde tivemos a oportunidade de desenvolver ações de formação em várias escolas secundárias da cidade da Praia. Em cada escola, havia dois educadores de pares (um do sexo masculino e uma do sexo feminino).

No entanto, as temáticas desenvolvidas nas sessões nos liceus foram:
– Apresentação do Projeto “Jovens Contra Violência do Género”;
– Dicotomia Sexo e Género;
– Estereótipos e Representação do Género;
– Machismo e Masculinidade (consequência na relação do Género);
– As Relações de Poder Sobre o Género (vídeos sobre o Género).

Da minha parte, posso dizer que foi
uma experiência sensacional, por ter desenvolvido as cinco sessões de formação juntamente com os alunos de uma escola secundária. Esta experiência deu-me a oportunidade de partilhar com os alunos um pouco daquilo que aprendi ao longo das formações. Na verdade, o que me motivou ainda mais em continuar com o projeto, foi justamente o interesse e a motivação que os alunos demostravam ao longo das sessões. Como forma de ilustrar o impacto que o projeto teve na vida dos alunos, passo a mencionar abaixo algumas citações de alguns alunos.

As seções foram muito educativas, interativas e dinâmicas. Usaram uma boa técnica para de uma maneira simples levar-nos a informação. Fizeram-nos desmistificar certos conceitos que tínhamos como sendo corretas (Aluno A).

As seções foram bem interessantes, sobretudo na parte dos jogos, da criação e da inovação. Foi algo diferente que serviu para expandir os nossos horizontes, de modo que possamos ter mais conhecimentos (Aluno B).

Estou muito grata por ter participado em todas as sessões de formação. As sessões retrataram justamente o que se passa na nossa sociedade. Por isso, eu acho que todas as pessoas deviam ter acesso a essas informações, de modo que possam estar mais atento quanto às suas ideologias em relação aos papéis do homem e da mulher na sociedade (Aluno C).

Conforme as citações dos alunos acima, dá para ter a noção de que ficaram muito satisfeitos com o projeto, visto ser algo inovador, sobretudo em termos de estratégias metodológicas, em que prevalece sobretudo o diálogo e a partilha. Todos os alunos participantes ficaram maravilhados porque as sessões eram dinâmicas e interessantes, isto porque, trabalhamos muito com os jogos e as dinâmicas.

Enquadrado ainda na parte prática do projeto, realizamos ações de formação com vários grupos associativos, comunitários e religiosos, no sentido de multiplicar a mensagem sobre a temática “masculinidade positiva”. As sessões nas comunidades também tiveram um impacto extremamente positivo. No final das sessões, os participantes declaravam que as sessões foram esclarecedoras, sobretudo no que tange à alguns estereótipos que temos aprendido socialmente.

Foi notório que na nossa sociedade ainda existem algumas ideias estereotipadas que precisam ser desconstruídas, concretamente: O papel social do homem e da mulher. Nesse sentido, considero que as discussões levadas a cabo durante as sessões foram bastante pertinentes para despertar a reflexão por parte dos participantes (jovens de diferentes idades).

Para além das sessões de formação nas comunidades, também tivemos a incumbência de desenvolver ações de formação para funcionários de diferentes serviços públicos. As sessões com este público-alvo foram mais dinâmicas e participativas, em comparação com as sessões nas comunidades. Por mais incrível que pareça é que mesmo na classe profissional, ainda permanecem muitas ideias estereotipadas quanto ao género. Mas, foram estas ideias estereotipadas que nos orientou para esclarecer melhor, tendo sempre como o foco na “masculinidade positiva”.

3. RESULTADOS ALCANÇADOS

Com a finalização da primeira etapa do projeto, pode-se indicar alguns resultados que foram alcançados, tais como:

– Jovens e adultos mais conscientes dos seus papéis na sociedade em que estão inseridas;
– Jovens e adultos sensibilizados quanto à matéria da violência do género;
– Jovens mais capacitados para orientar os seus pares;
– Aumento do conhecimento na área de masculinidade positiva, tanto por parte dos alunos das escolas secundárias, bem como dos elementos dos grupos associativos, comunitários e religiosos.

4. RECOMENDAÇÕES PARA EVITAR A PROSTITUIÇÃO E O TRÁFICO HUMANO

De acordo com as minhas humildes experiências de vida, apresento as seguintes recomendações que servirão para evitar a prostituição e o tráfico humano:

1. Reforçar os laços na família;
2. Reforçar as Políticas Públicas, no sentido de prevenir o tráfico humano;
3. Promover maior emprego juvenil (empoderamento juvenil), de modo a combater a pobreza a exclusão social.

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